A história do xadrez mineiro, sob a ótica de um jornalista e atleta

APRESENTAÇÃO

O Jornalista e enxadrista Frederico Gazel Colen Pereira, Mestre FIDE, realizou um Trabalho de Conclusão de Curso que recebeu o título: “Comunicação e Esporte – Xadrez: Ótica Jornalística”, TCC elaborado quando de sua graduação em Comunicação Social, Ênfase em Jornalismo, no ano de 2010. Além de abordar o ‘esporte da mente’ sob a ótica das mídias, Fred Gazel realizou um belíssimo trabalho no que concerne a buscar e contar a história do xadrez em Minas Gerais. Oportunamente, neste 06 de novembro de 2022, a Federação Mineira de Xadrez resgata e publica em seu sítio na rede mundial de computadores uma parte deste trabalho.

Sem me alongar, convido os amantes do esporte milenar a dedicar alguns minutos para a leitura aprazível desta pesquisa que enriquece e mostra, com todas as letras, o xadrez mineiro, sob a ótica de um apaixonado pelas 64 casas do tabuleiro e suas belas peças.

Ricardo Salim

Vice-presidente da Federação Mineira de Xadrez; Membro Efetivo da Academia Barbacenense de Letras; e Membro Efetivo da Academia Barbacenense de Ciências Jurídicas.

 

Comunicação e Esporte – Xadrez: Ótica Jornalística

 

Este jogo assemelha-se a uma guerra, onde um exército luta contra outro dispondo do mesmo número de elementos no início da batalha, seguindo uma linha de forças hierárquicas. O xadrez, desde sua criação, era praticado como lazer e diversão. Porém, com o decreto da lei de nº. 3.199, de abril de 1941, criou-se no Brasil a Confederação Brasileira de Xadrez, (CBX) órgão regente do esporte que organiza seus eventos e competições fielmente vistoriados pela FIDE[1].

O esporte aparece no estado através da Federação Mineira de Xadrez (FMX), conforme decreto da Confederação Brasileira de Xadrez, em 6 de novembro de 1937, como consta em ata de fundação da FMX:

 

A seguir, assumiu na reunião, o presidente eleito, Dr. Caio Nelson Senna, que agradeceu por si e por seus companheiros de directoria a escolha de seus nomes para dirigir os destinos da nova entidade enxadrística, esperando que todos cooperem com sua bôa vontade para o progresso e desenvolvimento da Federação Mineira de Xadrez (Ata da Federação Mineira de xadrez, Belo Horizonte, 1937, p.1).

 

Em Belo Horizonte o jogo de xadrez conquista seus praticantes em 1952, através do antigo Clube de Xadrez – que hoje já encerrou suas atividades por motivos financeiros, onde inúmeros enxadristas renomados praticavam o esporte na rua Curitiba, centro da cidade. Na ata de fundação do Clube de Xadrez de Belo Horizonte constam nomes de políticos de peso, como Juscelino Kubistchek de Oliveira e Gustavo Capanema, sem contar os grandes jogadores que passaram por lá e que tiveram notáveis destaques nacionais, como 1º Mestre Internacional[2] de Xadrez do Brasil, o mineiro Eugênio Maciel German, o Mestre Internacional Wellington Carlos Rocha (também mineiro) e outros tantos que reuniam-se num ambiente movimentado de associados que frequentavam não somente para exercitar e estudar a prática do xadrez, mas também para manter contato com fortes jogadores da época.

Aos 22 de março de 2000, coincidentemente com a derrocada e declínio do Clube de Xadrez, outro clube foi criado na capital mineira no bairro Barroca com o nome “Casa do Xadrez- Escola e Clube”. Atualmente tornou-se uma das maiores potências no que diz respeito a centro de treinamento em todo o país. Desde sua fundação pelos proprietários e amantes do xadrez, Júlio Lapertosa[3] e sua esposa Luciane Sepúlveda – hoje presidente da Federação Mineira de Xadrez- o clube revela grandes talentos de nível estadual e nacional do cenário enxadrístico. Destaque para Franciele Gomes Cury, que conquistou aos 13 anos o título de campeã mineira de xadrez; Arthur Chiari que se tornou Mestre FIDE[4] e Campeão Panamericano sub-12; Luiz Alexandre que também é Mestre FIDE e campeão mineiro de xadrez; Roberto Molina que tornou-se Mestre Internacional e Frederico Gazel (autor deste trabalho), o atual campeão do estado.

Outro lugar onde o xadrez é praticado em Belo Horizonte é a “Praça 7 de Setembro” na região central da cidade, local onde se reúnem diariamente amantes e aficionados do jogo. No entanto, por não haver local particular, é considerado por muitos enxadristas, como “xadrez de rua”. A prática do xadrez na região teve início por volta da década de 1970, quando jogadores de damas levavam seus próprios tabuleiros. Contudo, os enxadristas aderiram à ideia dando início a prática viva até hoje. Além da Praça 7 e da Casa do Xadrez, existem outros pontos onde a prática do xadrez é sustentada na capital mineira. São os clubes filiados à Federação Mineira de Xadrez tais como o Clube de Xadrez de Venda Nova, a AASBEMGE (Associação Atlética Bemge), Oficina Mestre Ataíde e o Clube de Xadrez Seara Barreiro.

Mesmo havendo tanta atividade enxadrística, o xadrez ainda causa certa estranheza em boa parte das pessoas, haja visto que Garry Kasparov (2007), em seu livro, afirma no capítulo “O xadrez vai a Hollywood” que:

 

É difícil pensar em um conjunto de imagens mais paradoxal do que a reputação do jogo de xadrez em contraste com a do jogador de xadrez. O jogo de xadrez é aceito como símbolo universal de intelecto e complexidade, sofisticação e astúcia. E ainda persiste a imagem do devotado jogador de xadrez como excêntrico, talvez até mesmo psicótico (KASPAROV, G.2007 p.14).

 

Mesmo o jogo de xadrez sendo popularmente conhecido, não há grandes destaques ao esporte nos veículos de comunicação. Esportes de menor visibilidade não conseguem ter notoriedade junto à mídia, já que estes encontram dificuldades para a inserção no jornalismo, entravando assim um reconhecimento no segmento esportivo por parte da sociedade.

Tratando o esporte como um “produto”, o interesse das assessorias de comunicação de cada esporte está em apresentar a sua modalidade, tornando-o visível e criando um reconhecimento da sociedade. Para promover o esporte como produto, PIitts&Sotlar (2002) descrevem:

 

Uma das razões básicas para a promoção é informar as pessoas sobre um produto (…) se ninguém sabe do seu produto, ninguém irá comprá-lo. Razão para qual os esportes que não são divulgados tendem a serem esquecidos por parte dos jornais (PITTS & SOTLAR, 2002, p.232).

 

No entanto, para que o xadrez fosse promovido em Belo Horizonte, Estevão Bakô, Julio Lapertosa e Nelson Castelo Branco deram início às publicações de xadrez em um jornal impresso mineiro. Os aficionados tinham a oportunidade de acompanhar as principais notícias através da coluna das terças-feiras do jornal “Hoje em Dia”. Desde 1993, as publicações das notícias tinham como propósito mostrar situações de partidas de xadrez e também os principais resultados do Estado, do país e até mesmo dos campeonatos mundiais.

A fim de mostrar a importância do jogo, não somente como esporte, mas também como um jogo que exerce papel de integrador social, a Federação Mineira de Xadrez iniciou um projeto que deu oportunidade a todos os alunos da rede pública de ensino do Estado de Minas Gerais. O programa que teve grande expansão no ano de 2005 é da SEDESE (Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social – antiga Secretaria de Estado de Desenvolvimento e Esportes) junto à Federação Mineira de Xadrez e a Secretaria de Estado de Educação. O objetivo foi e ainda é a implantação do xadrez nas escolas da rede estadual mineira, como conteúdo pedagógico opcional.

Embora o xadrez ainda seja considerado por muitos um esporte elitizado, a integração dos alunos nas competições de xadrez em Minas Gerais tornou-se rotineira, dando assim oportunidade de integração social aos estudantes de escolas públicas. Em 9 de agosto de 2008 a FMX fez de seu programa o maior evento já realizado em Minas. A fase final do Circuito Mineiro de Xadrez Escolar de 2008 teve expressivos 1,5mil alunos/atletas de todo o estado, realizado na capital mineira no estádio Felipe Drumont, conhecido como “Mineirinho”. Devido ao sucesso, o projeto deu sequência no ano seguinte com a segunda edição do Circuito Mineiro de Xadrez Escolar realizado no mesmo local.

Nesses eventos, os veículos de imprensa como o jornal Estado de Minas, a Rede Globo, O Tempo, jornal Edição do Brasil, jornal Correio Eletrônico[5], Rede TV! divulgaram a promoção da FMX, noticiando a iniciativa. Tamanha grandeza realizada em Belo Horizonte, rendeu frutos também para as escolas da rede particular de ensino que, vista a importância do xadrez, o alcance gerado pelo jogo em todo o estado, evidenciou a inserção do xadrez na rede privada de educação na capital. Instituições como Colégio Santo Antônio, Colégio Loyola, Escola Americana, Colégio Magnum, Colégio Regina Pacis já utilizaram ou ainda utilizam o xadrez em suas atividades extracurricular e também em sua grade escolar.

 

NOTAS:

[1] FIDE: Fédération Internationale dês Éches – Órgão máximo regente do xadrez mundial fundado em 1924 na França. Reconhecida pelo Comitê Olímpico Internacional.

[2] Mestre Internacional é a titulação dada à segunda graduação do esporte.

[3] Julio Lapertosa é instrutor da FIDE, Psicólogo e Professor de xadrez.

[4] Mestre FIDE é a titulação dada à primeira graduação do esporte.

[5] Jornal Correio Eletrônico – Fundado em 2009 por Felipe José de Jesus, Frederico Gazel e Evandro Avelar. Veículo online mineiro distribuído semanalmente em PDF. Atualmente sua divulgação ocorre por endereço eletrônico.